quarta-feira, 20 de junho de 2007


CICLOS DA VIDA


“Eu sempre me tatuei em momentos especiais. Ganhei minhas primeiras tatuagens de minha mãe na véspera do aniversário de 23 anos. A primeira é uma cruz alemã formada por quatro Fs espelhados – eles significam valente, temente a Deus, alegre e livre. É o símbolo de uma banda americana chamada Jawbreaker, que eu ouvia na época. No mesmo dia, tatuei um ideograma que representa o destino, o carma. Esperei alguns anos por outro aniversário para tatuar dois mantras e as estrelas coloridas. Mas minhas preferidas são as últimas, que fiz um ano atrás em um momento importante da vida. Eu tinha acabado de me separar e terminar a pós-graduação. Ia morar sozinha e me sentia em expansão. Tatuei quatro símbolos do horóscopo maia – kins – nos cotovelos e tornozelos. Eu queria ‘fechar o corpo’. Seus significados são purificação, iluminação, encantamento e evolução. No meio das costas, escrevi All You Need Is Love. Essa música é meu lema. Acho que sempre estamos bem quando temos amor de pais, irmão, namorado, amigos. Precisava me lembrar disso.”

VANESSA LIMA, 31 anos, designer, tem dez tatuagens: uma cruz, um ideograma, dois mantras indianos, um conjunto de estrelas, quatro símbolos do horóscopo maia e um título de música.


EQUILÍBRIO


“Morei na Austrália e achava interessante a relação deles com a tatuagem. Conforme crescem na sociedade, eles tatuam o rosto e cada traço tem um significado. Fiz minha primeira quando tinha 21 anos, escondido de meus pais. É um símbolo maori. É a minha preferida, pois marca o início de tudo. Depois, escolhi o deus Sol e a deusa do mar para tatuar na coluna, como um totem maori. Ela se completou numa segunda etapa, com animais, o homem e a terra, que eu desenhei quando estava na Coréia com Ana Paula. O totem na coluna dá a idéia de equilíbrio e sustentação.Também buscava o equilíbrio quando desenhei Buda na perna. Estava muito triste com a morte de um amigo e queria algo que transmitisse paz.” ALEXANDRE MARCOSWON, 25 anos, advogado e modelo, tem quatro tatuagens: símbolos maoris, uma aliança e um buda.


SÍMBOLOS DE UNIÃO


Há quatro anos, os pais de Alexandre planejaram uma viagem para separá-lo de Ana Paula. A família dele é coreana e não aceitava a namorada ocidental e cinco anos mais velha. Antes de Alexandre partir, o casal comprou um par de pingentes como se fosse uma aliança. E tatuaram o formato do pingente no pulso. “Alê foi para a Coréia estudar. Um mês depois, eu estava lá”, diz Ana Paula. Há um ano, Alexandre abriu mão do conforto da casa dos pais para morar com a namorada:“Eu sou mais feliz. Liberdade é tudo para mim”. Os dois planejam se casar oficialmente em breve e, é claro, fazer mais uma tatuagem juntos. “Nós sempre estamos buscando o que pode nos unir mais”, diz Ana Paula.



SENTIMENTO


“Minhas tatuagens fazem parte de minha vida. É como se eu tivesse nascido com elas. Fazem parte de mim e expressam meus sentimentos. Exceto a primeira, que fiz quando tinha 18 anos por impulso, sempre penso muito até chegar ao tatuador. Mas, quando decido, vou convicta.A tatuagem que está em meu braço foi desenhada por mim e por Alê, meu namorado. Ele desenhou o coração, e eu, os bonecos, que representam minha mãe, meu pai, meus dois irmãos – um deles adora filosofar e o outro é skatista – e o Alê, que desenhei com os olhos puxados. São as pessoas mais importantes de minha vida. Sem eles, eu não conseguiria sobreviver. Em seguida escrevi tempo com reticências. Foi depois da morte de um amigo muito próximo. Minha mãe sempre dizia que o tempo é o segredo da vida. Eu só consegui entender isso agora. Ele cura as dores, traz amadurecimento e experiência.”

ANA PAULA DE SÁ, 30 anos, consultora de moda, tem cinco tatuagens: um lagarto, um átomo, aliança, a palavra Tempo e um coração rodeado por pai, mãe, dois irmãos e namorado.



EVOLUÇÃO


“O que dá valor a uma tatuagem é o sentimento que você coloca nela. Em 1995, fiz três importantes: o ideograma Zen na cabeça, KZS, que é o nome do primeiro disco que eu gravei, e S.O.D., que é a banda de meu guitarrista preferido, o Scott Ian. Uma homenagem porque estava indo para os Estados Unidos fazer uma turnê com eles. Era um sonho realizado, um momento de felicidade plena, eu via beleza em tudo. O ideograma que tatuei na cabeça representa a beleza e a bondade. Quando comecei a treinar, o sensei (mestre de artes marciais) falou que faltava um pedacinho do ideograma. Havia uma falha. Acho que faltava algo para eu atingir o estado de zen. Aliás, ainda não me considero bonito, virtuoso, para terminá-la. Se um dia der um estalo, completo. É interessante observar isso nas tatuagens. Elas amadurecem junto com você. Quando tatuei o dragão em um jardim de peônias, em 2000, queria apenas um painel oriental bonito. Hoje, eu os vejo como a arte (música) e a espada (kenjutsu). É a fusão de dois caminhos em que busco o aprimoramento do espírito.”

MARCELO NEJE, 35 anos, músico e instrutor de kenjutsu, tem dez tatuagens: dois ideogramas, um cão bull terrier, a expressão Hardcore, o nome do seu primeiro disco, KZS, o nome das bandas Treta e S.O.D., uma tribal incompleta, uma prancha de surfe e um dragão num jardim de peônias.



HISTÓRIAS DE AMOR


“Fiz minha primeira tatuagem aos 19 anos sem pensar no significado dela. Era uma meia-lua com borboletas e nuvens. Depois, desenhei três dragões – meu signo chinês – e dois elefantes no braço esquerdo. Eu andava indeciso e confuso, tinha acabado de sair de um relacionamento de dez anos.Acho que essa mistura de elementos mostra bem isso.A tatuagem foi restaurada depois de eu ter passado quatro meses em Trancoso, na Bahia.Voltei de alma lavada, querendo viver, me reconstruir. Vi que os desenhos não combinavam e cobri os dragões com motivos indianos e um portal.O tatuador sugeriu os desenhos e parecia que ele lia o que estava em minha cabeça. Tinha tudo a ver comigo na época: eu ia muito em raves, ouvia trance, estava reconquistando minha liberdade. Um ano depois, conheci uma pessoa que me deixou fragilizado. Por isso, tatuei um escudo de proteção chinês e um touro, que é meu signo astrológico. Depois, fiz um dragão em várias sessões, durante seis meses.”

PAULO MÓDENA, 41 anos, estilista, tem nove tatuagens: uma meia-lua com borboletas e nuvens, dois elefantes, três dragões (cobertos), um portal, uma flor de lótus, um traço de cartoon em movimento, um touro estilizado, um escudo de proteção e um dragão.

Nenhum comentário: